Fome é confirmada na Cidade de Gaza pela primeira vez, diz órgão ligado à ONU
Criança palestina em meio à fome crescente em Gaza
Publicado em 22/08/2025 08:48
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A fome foi confirmada pela primeira vez na cidade de Gaza, segundo o Integrated Food Security Phase Classification (IPC), sistema apoiado pela ONU que monitora a insegurança alimentar em diferentes regiões do mundo.

 

O relatório, divulgado nesta quinta-feira (22), classifica a situação do território como "catastrófica" e afirma que mais de 500 mil pessoas enfrentam risco imediato de "fome, miséria e morte".

O órgão ressalta que a crise é "totalmente provocada pelo homem" e pode ser revertida caso haja acesso amplo e imediato a ajuda humanitária. O documento também prevê que, até o fim de setembro, a escassez grave se estenderá para as áreas de Deir al-Balah e Khan Younis.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o cenário em Gaza é "um desastre provocado pelo homem, uma acusação moral e um fracasso da própria humanidade".

Ele reforçou que Israel tem obrigações claras pelo direito internacional de garantir alimentos e suprimentos médicos à população. "Não podemos permitir que isso continue impunemente. O tempo de agir é agora", declarou.

 

O coordenador de emergências humanitárias da ONU, Tom Fletcher, também se pronunciou.

Segundo ele, a fome em Gaza "deveria envergonhar o mundo" e precisa levar a uma resposta urgente. Em apelo direto ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu a abertura dos pontos de passagem para a entrada de alimentos e suprimentos "na escala massiva exigida".

A nova avaliação foi elaborada por cerca de 50 especialistas de 19 organizações, que combinaram levantamentos por telefone, medições de circunferência dos braços de crianças para avaliar desnutrição e informações sobre mortalidade em um contexto sem dados oficiais confiáveis.

O IPC destacou que não conseguiu analisar toda a Faixa de Gaza: Rafah foi excluída por estar em grande parte despovoada e o norte do território por falta de evidências suficientes, embora a gravidade ali seja considerada "igual ou pior" à da Cidade de Gaza.

O relatório alerta ainda para o agravamento de doenças, como diarreias, infecções respiratórias, sarampo e até pólio, favorecidas pela combinação de desnutrição, superlotação e falta de saneamento. A previsão é de que, mesmo com algum aumento na entrada de ajuda humanitária até setembro, a assistência continuará insuficiente diante das necessidades.

Idoso palestino sofre de desnutrição severa  em Khan Younis, cidade palestina situada no sul da Faixa de Gaza

Idoso palestino sofre de desnutrição severa em Khan Younis, cidade palestina situada no sul da Faixa de Gaza

Agências da ONU — FAO, Unicef, Programa Mundial de Alimentos e OMS — divulgaram um comunicado conjunto exigindo cessar-fogo imediato e acesso sem restrições para que a ajuda chegue à população.

Segundo o texto, mais de 12 mil crianças já foram identificadas em estado de desnutrição aguda em julho, sendo que uma em cada quatro apresentava a forma mais grave da condição.

O Ministério da Saúde administrado pelo Hamas afirma que 271 pessoas já morreram de fome ou desnutrição desde outubro de 2023, incluindo 112 crianças. A organização Médicos Sem Fronteiras relata que uma em cada cinco crianças atendidas em suas clínicas sofre de desnutrição severa ou moderada e denuncia que até hospitais têm dificuldade para alimentar pacientes.

Israel, por sua vez, rejeita o relatório do IPC e acusa a organização de usar "dados parciais e enviesados" baseados em informações fornecidas pelo Hamas.

O Ministério das Relações Exteriores israelense chegou a classificar o documento como "fabricado" e "parte de uma campanha de mentiras", afirmando que já enviou cerca de 100 mil caminhões de ajuda a Gaza desde o início da guerra.

Netanyahu tem insistido que a política de seu governo é evitar uma crise humanitária, acusando o Hamas de provocar deliberadamente a fome.

As críticas ocorrem em meio à preparação de Israel para uma nova ofensiva de larga escala contra a Cidade de Gaza, aprovada pelo gabinete de guerra nesta semana. O plano prevê a evacuação de um milhão de pessoas da região antes da incursão terrestre. A escalada militar aumenta o temor de agravamento da crise humanitária.

 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn92pln37v4o

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