Ações dos EUA ameaçam trégua comercial com a China; entenda
Restrições a chips e vistos estudantis ameaçam acordo comercial entre as duas maiores economias do mundo, gerando tensões diplomáticas e preocupações no setor tecnológico
Publicado em 29/05/2025 11:01
NOTICIAS INTERNACIONAIS
Jessie Yeung e Steven Jiang

Um duplo golpe dos Estados Unidos ameaça destruir a já frágil trégua na guerra comercial entre Washington e Pequim, com empresas de tecnologia e estudantes chineses sofrendo choques inesperados por parte da administração Trump na noite de quarta-feira (28).

Vista de dentro da China, a situação parecia melhorar após as duas maiores economias do mundo concordarem em reduzir drasticamente as altas tarifas – um passo conciliatório em uma guerra comercial que havia ameaçado todo o sistema global de comércio.

As fábricas começaram a funcionar novamente. Contêineres há muito atrasados começaram a deixar os portos chineses com destino aos EUA. A mídia chinesa celebrou o acordo como uma vitória nacional, enquanto altos funcionários adotaram um tom otimista ao descrever a cooperação entre as duas superpotências rivais.

Mas os dois golpes de Washington na quarta-feira terão efeitos de longo alcance em toda a China, enfurecendo famílias e autoridades. Eles também colocam em questão o futuro das negociações comerciais entre EUA e China; a trégua temporária dura apenas 90 dias, e o tempo está correndo para alcançar um acordo de longo prazo.

O primeiro golpe veio em um relatório do Financial Times na quarta-feira, que dizia que as ações do presidente dos EUA, Donald Trump, efetivamente impediram algumas empresas americanas de vender software usado para projetar semicondutores para a China.

Esses pequenos chips - que alimentam nossos smartphones, computadores, automóveis e eletrodomésticos - têm estado na vanguarda da batalha tecnológica entre EUA e China nos últimos anos.

A administração Biden havia bloqueado o acesso da China a semicondutores fabricados nos EUA e, no início deste mês, Washington alertou as empresas contra o uso de chips de IA fabricados pela gigante chinesa Huawei.

Pequim foi impactada, especialmente porque investiu dezenas de bilhões de dólares em sua indústria de semicondutores, visando aumentar a produção doméstica e se tornar menos dependente dos EUA e outros países.

Liu Pengyu, porta-voz da Embaixada da China nos EUA, recusou-se a comentar sobre o relatório do software de chips, mas acusou os EUA de "exagerar o conceito de segurança nacional, abusar dos controles de exportação e bloquear e suprimir maliciosamente a China" em uma declaração à CNN.

Mas foi o segundo golpe da Casa Branca que atingiu diretamente as salas de estar das famílias chinesas, com o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, dizendo que os EUA irão "revogar agressivamente vistos para estudantes chineses" – especialmente aqueles em campos críticos ou com conexões com o Partido Comunista Chinês.

É difícil exagerar o impacto. Havia mais de 270 mil estudantes chineses nos EUA em 2024, e ainda mais antes da pandemia. Embora alguns sejam provenientes das elites políticas e empresariais da China, muitos também vêm de famílias de classe média.

As famílias chinesas economizam por anos e gastam quantias exorbitantes para enviar seus filhos ao exterior, com estudantes frequentando cursos preparatórios ou contratando tutores para aperfeiçoar suas candidaturas.

O anúncio de Rubio coloca tudo isso em risco – com os estudantes agora enfrentando possível deportação no meio de sua educação duramente conquistada.

Dado que a China é um estado de partido único que alcança profundamente quase todos os aspectos da sociedade, pode ser difícil ou impossível para muitos estudantes refutar quaisquer alegações de que estão conectados ao Partido Comunista – especialmente se o Departamento de Estado definir esse termo de forma ampla.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China disse na quinta-feira que "se opõe fortemente" à medida, acusando os EUA de "injustamente" revogar vistos "sob o pretexto de ideologia e segurança nacional."

Candy, uma estudante de estatística na Universidade de Michigan, que não quis dar seu nome completo, disse que temia que seu visto fosse cancelado antes de se formar.

"Terminar apenas com um diploma do ensino médio é algo que eu temo", disse ela da China, onde está visitando a família. "Rezo para conseguir concluir minha graduação com segurança e tranquilidade."

Embora a ameaça aos vistos venha como um choque, alguns argumentam que o direcionamento aos estudantes pode, na verdade, ser um benefício para a China no final.

O número de estudantes chineses nos EUA vinha diminuindo nos últimos anos, em parte devido a mudanças significativas tanto na política quanto na percepção pública.

Especialistas dizem que muitos estudantes e famílias chinesas agora se preocupam com segurança, racismo e discriminação, e dificuldades de imigração nos EUA – especialmente à medida que opções mais competitivas de ensino superior se abrem em outros países, incluindo na própria China.

A repressão de Trump poderia fazer com que mais acadêmicos chineses, incluindo algumas das mentes mais brilhantes em seus campos, retornem ao seu país de origem – ou optem por ficar em primeiro lugar, rejeitando uma educação americana por um diploma chinês.

E esses pesquisadores – incluindo líderes-chave em campos tecnológicos – poderiam ser a chave para a China alcançar ou ultrapassar os EUA – exatamente o que muitos funcionários de Trump estão tentando impedir.

A quarta-feira trouxe uma boa notícia para a China; um tribunal federal bloqueou Trump de impor a maioria de suas tarifas globais, incluindo as atuais tarifas de 30% sobre a China. Porém, a administração apelou imediatamente da decisão, deixando o status dessas tarifas – e da guerra comercial – no ar.

 Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/analise-acoes-dos-eua-ameacam-tregua-comercial-com-a-china-entenda/

 

 

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