No dia 22 de junho de 1907, uma segunda-feira, teve início, no antigo prédio do Aljube, em Salvador - BA, a primeira assembleia da Convenção Batista Brasileira. O momento foi marcado por solenidade e grande expectativa. Estavam presentes 43 mensageiros enviados por Igrejas e organizações Batistas, aos quais se juntaram mais dois posteriormente. O salão estava completamente lotado, com visitantes, autoridades e irmãos em pé junto às janelas e ao longo das paredes, tamanha era a importância do acontecimento.
Naquele tempo, os Batistas brasileiros somavam 4.200 membros organizados em 83 Igrejas. Durante essa primeira assembleia, foram aprovadas as primeiras providências organizacionais, incluindo a adoção de uma constituição provisória e a eleição da diretoria da nova Convenção. Foram eleitos: F. F. Soren como presidente; Joaquim Fernandes Lessa como 1º vice-presidente; João Borges da Rocha como 2º vice-presidente; Theodoro R. Teixeira como 1º secretário; Manoel Ignacio Sampaio como 2º secretário; e Z. C. Taylor como tesoureiro.
A temática predominante da assembleia foi Missões, mas outros assuntos centrais também foram abordados, como educação cristã, educação teológica e ministerial, educação formal voltada à transformação social, comunicação, oração e a disseminação da Palavra de Deus.
Diversas teses foram apresentadas ao longo dos dias de reunião, demonstrando a profundidade das reflexões daquele grupo pioneiro. Dentre elas, destacaram-se: “Influência político-social dos Batistas no Brasil”, de Dr. Alfredo Freire; “O Brasil como campo missionário”, do pastor Salomão Luiz Ginsburg; “Evangelização interior”, de E. A. Jackson; “Pontos estratégicos de evangelização”, de O. P. Maddox; “Dever e privilégio de contribuir”, de Joaquim Lessa; “Cortesia interdenominacional”, de A. L. Dunstan; “Literatura evangélica”, de Theodoro R. Teixeira; “Sistema educacional”, de W. H. Cannada; “Educação da mulher”, de Archiminia Barreto; “Serviço teológico e seminário”, de Dr. João W. Shepard; e “Sustento próprio”, de Z. C. Taylor.
Foram criadas também as primeiras comissões da Convenção, contemplando as áreas de Constituição; Missões Nacionais e Evangelização; Educação; Escolas Dominicais; União da Mocidade Batista; Publicações e Literatura; Sociedades de Senhoras; Sociedades Juvenis; Missões Estrangeiras; e Estatística. Também foram organizadas as primeiras juntas: Evangelização Nacional, Missões Estrangeiras, União da Mocidade Batista, Educação e Seminário, Escolas Dominicais, Casa Publicadora e Administração do Seminário.
As atas da assembleia registram outros episódios marcantes. Joaquim Lessa propôs — e foi aprovado — que se lançasse em ata um voto de louvor e agradecimento aos implantadores do trabalho Batista no Brasil. Já o Dr. W. B. Bagby sugeriu que fosse aplicada uma multa de 5$000 para Missões Nacionais a qualquer delegado que não estivesse presente no recinto às 14h. A proposta foi aprovada. No entanto, como todos compareceram pontualmente, o presidente da sessão comentou, em tom bem-humorado, que isso poderia parecer falta de vontade em contribuir, e sugeriu que todos, mesmo sem culpa, pagassem a multa. A ideia foi acolhida com alegria, e mensageiros e amigos foram depositando espontaneamente quantias sobre a mesa, totalizando 125$000. Em outro momento de gratidão, Bagby propôs — e foi aprovado — um voto de agradecimento aos irmãos baianos pela maneira afetuosa, gentil e cristã com que receberam os delegados da Convenção.
Participaram como mensageiros da 1ª Assembleia da Convenção Batista Brasileira os seguintes irmãos e irmãs: Salomão Luiz Ginsburg, W. H. Cannada, Dr. João W. Shepard, Mme. S. L. Ginsburg, Arvilla H. Ginsburg, Pr. Pedro Falcão, Ludgero Barreto, Capitão Galvão, José Ferreira do Couto, Carlos Edington, Isaias C. de Carvalho, Manoel C. de Carvalho, Belino Antonio Gonçalves, Pr. Manoel Ignacio Sampaio, Mme. Luiza Sampaio, Pr. Alexandre de Freitas, Pr. E. A. Jackson, João Izidro, Pedro Pereira, Izidoro Pereira, Professor Alipio Doria, Pr. Z. C. Taylor, Henrique Nascimento Gonçalves, Pr. R. E. Pettigrew, D. L. Hamilton, Venceslau Baptista, Mme. Z. C. Taylor, Manoel Avelino de Souza, Pedro Borges D’Almeida, Pr. L. M. Reno, Mme. L. M. Reno, Francisco José da Silva, Pr. A. L. Dunstan, Joaquim Lessa, D. F. Crosland, F. F. Soren, Theodoro R. Teixeira, Mme. F. F. Soren, Pr. O. P. Maddox, A. B. Deter, Mme. A. B. Deter, J. V. Montenegro e Dr. W. B. Bagby.
Esse encontro, realizado entre os dias 22 e 27 de junho de 1907, foi muito mais do que uma formalização institucional. Ele foi o marco de uma jornada missionária coletiva que até hoje influencia a caminhada dos Batistas brasileiros. Na simplicidade daquele início, em um prédio antigo e diante de desafios imensos, os mensageiros da fé deixaram um legado de compromisso, oração, trabalho e paixão pelo evangelho. O nascimento da Convenção Batista Brasileira foi também o nascimento de um sonho missionário, sustentado pela graça de Deus e pelo serviço fiel de seus pioneiros.
CONHEÇA ALGUNS DOS PIONEIROS QUE ESTAVAM NA 1ª ASSEMBLEIA DA CBB
Zacarias Taylor
Nasceu em 1851, em Jackson, Mississippi (EUA). Durante a Guerra da Secessão, sua família perdeu todos os bens e se mudou para o Texas, em 1865. Ele ingressou na Universidade Batista de Waco em 1869, graduando-se em Bacharel em Artes. Posteriormente, formou-se Mestre em Teologia pela Universidade Batista de Baylor, em 1879. Após sua consagração ao ministério, assumiu o pastorado no Texas.
Seu contato com Hawthorne, agente da Convenção Batista do Sul, e a leitura do livro O Brasil e os Brasileiros, de Kidder, despertaram seu interesse pelo trabalho missionário, levando-o ao Seminário de Louisville.
Casou-se com Kate Stevens Crawford em 25 de dezembro de 1881 e, no início de 1882, partiram para o Brasil, onde se uniram aos missionários Anna e William Bagby em Santa Bárbara D’Oeste - SP.
Estudaram a língua portuguesa com Antônio Teixeira Albuquerque e, em agosto de 1882, seguiram para Salvador - BA, onde organizaram a Primeira Igreja Batista da Bahia em 15 de outubro de 1882.
Em 1885, Taylor batizou o primeiro Batista em Pernambuco, Wandrejaselo Mello Lins, e ajudou a organizar Igrejas em Maceió, Recife e Petrolina.
Fundou o jornal O Eco da Verdade em 1886, ativo até 1900. Após a morte de sua esposa Kate em 1892, casou-se com Laura Barton em 1895, missionária que havia servido na China e que fundou o Colégio Americano Egídio, posteriormente Colégio Batista Taylor Egídio. Taylor representou a Primeira Igreja Batista de Petrolina na Assembleia da Convenção Batista Brasileira em 1907.
Foi também escritor e tradutor, tendo traduzido A História dos Batistas, de Vedder. Faleceu em 1919, em Corpus Christi, Texas, juntamente com sua esposa Laura e uma filha, vítimas de um maremoto.
Salomão Ginsburg
Nasceu em 6 de agosto de 1867, em um povoado próximo de Suwalki, na Polônia sob domínio do Império Russo. Filho de pai judeu polonês e mãe judia alemã, foi levado aos seis anos para a casa dos avós maternos na Alemanha, onde estudou até os 14 anos. Enfrentou conflitos religiosos com o pai e fugiu de casa aos 15 anos, indo parar em Londres, onde se converteu ao cristianismo após ouvir uma pregação ao ar livre.
Foi rejeitado pela família, espancado por parentes judeus e acolhido por uma hospedaria cristã. Estudou no Colégio da Bíblia e foi ordenado ao ministério em 1890. A convite de Sara Kalley, viúva do missionário congregacional Robert Kalley, veio ao Brasil.
Após breve passagem por Portugal para aprender português, chegou ao Rio de Janeiro em junho de 1890. Atuou inicialmente entre os congregacionais, mas após debates com Zacarias Taylor, concluiu que o batismo bíblico era por imersão e foi batizado por Taylor, em Salvador, em dezembro de 1891. Logo após, foi consagrado ao ministério Batista. Tornou-se líder entre os Batistas e foi designado pastor auxiliar na Bahia. Em 1892, casou-se com Carrie Bishop, que faleceu no mesmo ano, vítima de febre amarela. Enlutado, mudou-se para o Rio e casou-se em 1893 com Emma Morton, com quem teve uma vida missionária intensa.
Ginsburg fundou igrejas em várias cidades fluminenses, incluindo Campos e São Fidélis, onde enfrentou perseguições e chegou a ser preso. Publicou o jornal As Boas Novas e organizou a Associação Batista do Brasil em 1894. Em 1900, passou a atuar em Pernambuco, onde organizou a União Batista Leão do Norte e publicou o jornal O Missionário. Presidiu concílios de consagração pastoral e fundou o Seminário Batista de Pernambuco, em 1902. Em 1907, participou da fundação da Convenção Batista Brasileira, sendo secretário da diretoria provisória. Continuou participando ativamente das assembleias da CBB e assumiu o pastorado da Primeira Igreja Batista da Bahia em 1909. Após viagens a Portugal, Inglaterra e EUA, retornou ao Brasil em 1913 para dirigir a Casa Publicadora Batista e O Jornal Batista. Faleceu em 1º de abril de 1927, em São Paulo.
A.B. Deter
Arthur Beriah Deter chegou ao Brasil em 1901 com sua esposa May, enviados pela Junta de Missões de Richmond. Atuaram inicialmente no Rio de Janeiro, administrando a Casa Publicadora Batista e O Jornal Batista. Participou da fundação da Convenção Batista Brasileira em 1907. Em 1924, construiu o templo da Primeira Igreja Batista de Curitiba e foi um dos fundadores do Seminário Batista Paranaense. Viveu 39 anos no Brasil, deixando grande legado à obra batista. Retornou aos EUA em 1940 e faleceu em 1945, em Dallas (Texas).
Joaquim Fernandes Lessa
Nasceu em 1871, em São João da Barra - RJ. Converteu-se aos 21 anos após ouvir Salomão Ginsburg pregar ao ar livre, sendo discipulado por ele. Tornou-se pregador ativo no Norte Fluminense, mesmo sob perseguições. Em 1907, foi nomeado o primeiro Secretário Correspondente da Junta de Missões Nacionais, função hoje equivalente à de Diretor Executivo. Lançou um programa com foco na evangelização de indígenas e de regiões distantes, diretrizes que nortearam a Junta por décadas. Serviu como presidente da Convenção Batista Brasileira por duas vezes e da Convenção Batista Fluminense por 12 mandatos consecutivos. Faleceu em 22 de agosto de 1935, deixando legado importante à denominação.
Theodoro Rodrigues Teixeira
Theodoro Rodrigues Teixeira (1871–1950) foi uma das figuras mais influentes no meio Batista brasileiro, especialmente entre as décadas de 1920 e 1940. Embora não fosse pastor ordenado, seu papel dentro da denominação foi central e duradouro.
Nascido em Madri, na Espanha, em 1871, mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro. A partir de 1901, esteve diretamente ligado a O Jornal Batista, órgão oficial da Convenção Batista Brasileira, trabalhando inicialmente sob a liderança de William Entzminger e, após sua morte em 1930, assumindo o cargo de editor-chefe.
Principais contribuições
Editor-chefe do Jornal Batista (1925–1940): desde 1925 até 1940 dirigiu a redação do periódico, mantendo a linha doutrinária e informativa dos Batistas no país.
Coluna “Perguntas e Respostas” (assinada TRT): sua coluna tornou-se referência para esclarecer dúvidas teológicas, bíblicas e práticas, ajudando a moldar a identidade e compreensão batista no Brasil
Diácono e líder denominacional: foi diácono da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro e membro fundador da Segunda, atuando como importante laico articulador
Sua atuação consolidou O Jornal Batista como núcleo de formação doutrinária e unidade denominacional entre os Batistas de diferentes regiões do Brasil. Após sua aposentadoria, em 1940, a direção seguiu com Moisés Silveira e Almir Gonçalves.
Teixeira faleceu em abril de 1950, deixando legado marcante na imprensa e identidade batistas brasileiros.
Fonte: https://www.convencaobatista.com.br/site/pagina.php?NOT_ID=1349