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Por que furacão Melissa é uma tempestade com poder tão grande de destruição?
Imagem de satélite mostra furacão Melissa se movendo em direção à Jamaica em 27 de outubro de 2025
Publicado em 29/10/2025 18:33
NOTICIAS INTERNACIONAIS
Sarah Keith-Lucas Role,Apresentadora do tempo Author,Julia Braun Role,Da BBC News Brasil em Londres

 

O furacão Melissa atingiu a Jamaica no início da tarde desta terça-feira (28/10), com ventos de até 295 km/h. 

O fenômeno já é considerado por meteorologistas como o mais violento a atingir o país caribenho até hoje, além da mais forte tempestade do ano em todo o mundo. 

Antes mesmo de tocar o solo na Jamaica, o furacão já provocou três mortes no país. Outras quatro pessoas morreram no Haiti e na República Dominicana. 

Segundo o Centro Nacional de Furacões dos EUA, o Melissa atingiu primeiro o sudoeste da Jamaica, perto de New Hope, como um furacão de categoria 5, o nível máximo na escala de Saffir-Simpson. 

Ele tem se movido lentamente, o que significa que as chuvas e ventos fortes começaram já há alguns dias e podem se estender por ainda mais tempo. 

Muitos jamaicanos foram evacuados, com as autoridades alertando sobre condições "catastróficas e fatais". 

"É uma situação assustadora para a Jamaica", disse o Ministro da Água, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do país, Matthew Samuda, à BBC, antes da chegada do furacão. 

Samuda afirma que 70% da população vive a menos de 5 km do mar. A tempestade afetará diversas áreas baixas, como Kingston, Old Harbour Bay, Rocky Point e St Elizabeth. 

Em meio à preparação para o furacão, ele afirmou que tem sido difícil convencer as pessoas a procurar abrigos, pois muitos sentem que devem "proteger suas propriedades em vez de preservar suas vidas primeiro". 

"Esperamos ter feito o suficiente em termos de preparação", diz. 

Um terço da ilha está sofrendo cortes de eletricidade, segundo o Ministro da Energia, Daryl Vaz. 

Evan Thompson, do Serviço Meteorológico da Jamaica, alertou ainda mais cedo que as coisas vão ficar "significativamente piores" ao longo das próximas horas e dias. 

Por que o Melissa pode ser tão destruidor? 

Melissa é um furacão particularmente poderoso, grande e de movimento lento. Há vários motivos para isso: 

Águas mais quentes 

Furacões precisam de águas quentes para se alimentar, e o aumento do calor na superfície do mar tem injetado energia extra no sistema de tempestades. As águas no Caribe Ocidental estão atualmente próximas de 30°C, cerca de dois a três graus Celsius acima da média para a época do ano. 

Poucas mudanças na velocidade e direção 

Outro fator tem relação com o cisalhamento ou tesoura de vento — como são chamadas as mudanças de velocidade ou direção das correntes. 

Os ventos na atmosfera ao redor do furacão Melissa não estão sofrendo muitas mudanças, e essa falta de cisalhamento desempenhou um papel importante em permitir o amplo crescimento do furacão. 

Quando o cisalhamento do vento é maior, ele tende a fragmentar as tempestades e permitir que elas enfraqueçam. Mas nessa configuração, o furacão Melissa conseguiu continuar se formando e se fortalecendo por vários dias. 

Movimento lento 

Os "ventos de direção" que impulsionam o furacão são relativamente fracos. Isso significa que o sistema de tempestades está avançando lentamente, a menos de 6,4 km/h. 

Assim, o furacão permanece em áreas específicas por longos períodos, produzindo chuvas torrenciais e ventos destrutivos que normalmente passariam mais rápido em outras tempestades.

Um homem caminha perto de uma casa danificada pelos ventos preliminares do furacão Melissa em Hellshire Fishing Beach, em Portmore, Jamaica, 27 de outubro de 2025

Qual o papel do aquecimento global? 

A ligação entre as mudanças climáticas induzidas pelo homem e os furacões é complexa. 

Embora não se acredite que as mudanças climáticas aumentem o número de tempestades tropicais ou furacões, temperaturas mais altas do ar e do mar podem tornar aqueles que se formam mais intensos, com ventos mais fortes, chuvas mais intensas e maior risco de inundações costeiras. 

A frequência de furacões muito intensos como o Melissa está aumentando e continuará a aumentar à medida que o mundo aquece. 

Em seu último relatório de avaliação, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) concluiu que "a proporção de ciclones tropicais de categoria 4–5 provavelmente aumentará globalmente com o aquecimento". 

Um estudo da World Weather Attribution, analisando o furacão Milton no ano passado, constatou que as mudanças climáticas tornaram os ventos 10% mais fortes e as chuvas cerca de 20% a 30% mais intensas. 

Portanto, embora a ligação direta entre o furacão Melissa e um ambiente mais quente possa ser estudada após o evento, é provável que ele tenha se tornado mais úmido e com ventos mais fortes devido às mudanças climáticas induzidas pelo homem. 

"Já passamos por um furacão. Mas não um desse tamanho." 

A repórter Gabriela Pomeroy, da BBC News, conversou com Simon Johnson, um homem de 33 anos que mora na área de Harbour View, em Kingston, antes da chegada do furacão. Ele mora a cerca de 200 metros do porto e dizia estar "ansioso". 

"Colocamos madeira compensada na frente da casa para proteger da chuva e do vento", diz ele. "Colocamos sacos de areia em volta das portas e amarramos as venezianas para proteger as janelas." 

Simon, que mora com a esposa e duas irmãs, diz que eles sabem como é passar por um furacão, "mas não um desse tamanho". 

"Sabemos que ele chegará até nós", acrescenta. 

Ele diz que estocaram alimentos para uma semana. "Muitos supermercados estão vazios. Não consegui encontrar pão no nosso bairro. Mas temos enlatados", diz ele.

Uma câmera ao vivo da Reuters mostra ruas desertas no centro da capital jamaicana, enquanto os moradores se preparam para a tempestade de categoria 5

Uma câmera ao vivo da Reuters mostra ruas desertas no centro da capital jamaicana, enquanto os moradores se preparam para a tempestade de categoria 5

Devido à sua localização nas águas tropicais quentes do Caribe Ocidental, tempestades tropicais e furacões são uma ameaça recorrente e anual na Jamaica. 

A temporada de furacões vai de junho a novembro, com pico na Jamaica na segunda quinzena de outubro. 

Na maioria dos anos, a ilha sente os impactos de duas ou três tempestades tropicais ou furacões, mas é relativamente raro que essas tempestades atinjam diretamente a costa. Apenas três furacões atingiram diretamente a Jamaica desde 1988.

 

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2drjlr4pnzo

 

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